quinta-feira, 1 de abril de 2010

O CAUSO DOS CACHORROS URUGUAIOS

Por Werner Ximendes Beck

No ano passado quando fui à Montevideo, entre Treinta y Tres e Minas, parei num posto para rea-bastecer e me livrar do excesso de fluídos corpóreos, sem perceber chegou perto de mim um cachorro que me deu “buenas” e já foi falando: “Nos dá uma carona até Solis de Mataojo, estamos indo passar o feriado com a família”.

Levei um susto, primeiro porque nunca tinha visto e ouvido cachorro falar e depois porque aquele ali falava português fluente. Passado o impacto inicial e por ter ficado temporariamente mudo ante o inusitado ele deu uma rosnadinha faceira, abanou o rabo, e já foi dizendo: Não te preocupa “hermano”, yo soy Bob, usted não é o primeiro e nem será o último a ficar sem voz. Eu e meus parceiros trabalhamos numa empresa que terceiriza cães para as lides campeiras, atuamos em todo o Uruguay e na fronteira com o Brasil por isso falamos e latimos em português. Tem muita vaca e muita ovelha ignorante por aí, se a gente não manda um “au-au” em português não entendem, dá muita confusão, principalmente na hora de embretar, o fato de ser bilíngue facilita bastante.

Logo apareceu outro que já foi “hablando”: Bob não vai dar para ir com ele, é um carro e nós ainda estamos com cheiro de Amitraz do banho que tomamos depois da lida. Era demais, conhe-ciam carros e os princípios ativos dos banhos antiparasitários. Logo depois pediu desculpas por não ter se apresentado e disse que era o Riva (Rivadávia), prosseguiu dizendo que ele e o Carrasco ti-nham visto que era um carro porque, movidos pelo instinto, tinham mijado nas rodas, que não tinham como evitar, era uma tradição milenar mantida desde que a roda foi criada. Bob pediu licença e também foi dar uma “seladinha” nos pneus.

Disseram que iam aguardar mais um pouco, primeiro pelo ônibus, já que tem uns que tem assentos especiais para “perros” e depois por alguma camioneta, de carona iam mais rápido e eco-nomizavam com a passagem. Convidaram-me para acompanhá-los num lanche, disseram que ali tinha o melhor “x” de tripa de ovelha crua do Uruguay, que acompanhado por uma Norteña nin-guém resistia, mas que com um Pomelo ia bem também, já que eu estava dirigindo. Agradeci e disse que ia seguir em frente. Disseram-me que quando fosse à Rivera que procurasse a loja da empresa, que lá sempre tem uma lebre, uma mulita ou algum pedaço de capincho para vender.

Segui em frente, logo depois os três passaram por mim em uma camioneta, tinham conse-guido carona. Iam meio escondidos por causa do vento. Creio que jamais vou vê-los novamente e muita gente vai achar que é mentira, pelo menos tirei fotos deles, uma pena que não filmei nosso papo. Vou ficar com saudades dos três.


 

 
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