Por Sérgio Moacir Fontana
1971. Os jogos de futebol da turma B, do 2o ano do ginásio, eram organizados pelo Eduardo Martins, o Dado. O campo de areia do Auxiliadora era o palco onde alunos de todas as turmas se divertiam, correndo atrás da bola aos sábados ou nas manhãs de domingo.
Pois eram 3 da tarde de um sábado ensolarado, com temperatura amena, já de primavera. Nossa partida de futebol estava marcada para aquele horário, mas os adversários não apareceram, frustrando a expectativa da maioria, mas - cá pra nós - me deixando aliviado por não ter que enfrentar os marmanjos do 3o ano. Isto não quer dizer que nós ficamos sem jogar, mas por mais que eu tente, não consigo lembrar quem teve a idéia de convidar os caras de um time que tinha disputado a partida das 2 (duas) da tarde, para serem nossos adversários.
Já dispersos e cansados, os guris de uma turma do 1o ano, de pronto, não aceitaram o convite. Depois, resolveram se juntar a alguns dos remanescentes do outro time que recém os tinha enfrentado, e toparam o desafio. Cá pra nós, de novo – comparei o meu tamanho com o dos novos adversários e me senti bem melhor.
O jogo que começou difícil, com placar adverso de 0 x 1 antes dos 10 minutos iniciais, não por muito tempo permaneceu assim. O empate veio em seguida, amenizando o entusiasmo da gurizada do 1o ano, mais nova e ainda menos desenvolvida fisicamente e que já começava a cansar por causa do esforço já empenhado na partida anterior. Acredito que no final do primeiro tempo o placar já era 5 x 1, em nosso favor.
Já no início do período final, mais gols foram acontecendo, à medida que mais cansavam os adversários. Dois deles, extenuados, desistiram do jogo, deixando sua equipe com 9 jogadores.
Ficou mais fácil ainda, mas nosso valente adversário não desistiu nem mesmo quando o resultado, que lhes era muito desfavorável, ultrapassou a casa dos 20, chegando a 22 x 1. Àquela altura, todos os jogadores do nosso time já tinham feito gols, menos o goleiro e eu. Então houve um pênalti, e alguém pensou em chamar o César, nosso goleiro, para bater. Ele se deslocou lá da nossa área, colocou a bola na marca indicada pelo juiz, cobrou, e fez 23 x 1.
Quando acontecia um pênalti, os jogadores dos dois times se aglomeravam ao longo da projeção das duas traves, formando um “corredor polonês” em torno de quem ia chutar e de quem ia tentar defender a cobrança, e ficavam gritando: uns torcendo pela grande possibilidade de sair o gol; outros incentivando uma provável defesa do goleiro.
E ainda teve outro pênalti. Então o Dado perguntou:
- Tem alguém do nosso time que ainda não fez gol?
Em uníssono, quatro, cinco ou mais, responderam:
- O Mosquito.
Estava ali a minha chance. Eu me senti preparado para enfrentar o desafio e, no íntimo, já sabia como ia chutar aquela bola: forte, no canto esquerdo do goleiro.
O “corredor polonês” se formou. Então eu ajeitei a bola, tomei distância, corri e chutei... o vazio, porque o Dado - arrancando risadas de todos, somadas ao meu sorriso sem graça - puxou a bola com o pé, evitando o meu, quiçá, potente chute.
Preparei-me de novo, e desta vez não teria erro. O plano era o mesmo: chute forte, no canto esquerdo do goleiro. Corri, chutei e não acertei em nada, porque Dado, o malvado, repetiu o ato anterior.
Assim mesmo, não perdi a vontade de fazer o meu gol. O juiz, que nem teve a sensatez de advertir o transgressor, colocou, de novo, a bola na marca do pênalti. Corri e, pela terceira vez, já vermelho, refletindo a cor da nossa camisa, chutei o ar.
Quarta tentativa. Nem o árbitro conseguia parar de rir.
Imaginando que Dado, o maligno, ia repetir o que tinha feito nas três vezes anteriores, ameacei chutar forte e, na hora H, diminuí bastante a força, para ninguém pensar que eu iria cair, de novo, na “armadilha”. Pois Dado, o perspicaz, resolveu deixar a bola no lugar que estava, e eu, sem acreditar que acertaria a bola, chutei tão fraco que o goleiro adversário nem precisou se mexer para defender a penalidade. As gargalhadas de todos me deixaram muito envergonhado.
Teve mais um gol, e o placar final foi 24 x 1. Eu não fiz nenhum [gol] e fiquei com um trauma que foi curado de per si somente uns três anos depois, quando, também num jogo em um sábado à tarde, fiz um lançamento para um companheiro e errei na dose. Sem querer, acabei marcando o meu primeiro gol no “campo” do Auxiliadora.
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