terça-feira, 7 de agosto de 2007

MOSQUITO ELÉTRICO


Por Sergio Fontana

Eu já sabia ler e fazer contas simples quando fui apresentado à minha primeira professora, no Colégio Mélanie Granier (hoje Instituto Anglicano Mélanie Granier), em Bagé.
As turmas do primeiro e segundo ano primário tinham aulas simultâneas na mesma sala e a Professora Alice alternava as lições entre as duas séries que ficavam separadas somente pelo vão de circulação: à esquerda os alunos do 1o ano; à direita, os do 2o ano.
Ao final da segunda semana de aula a professora mandou chamar a minha mãe, reuniu-se com a diretora do colégio e chegou à conclusão que eu deveria passar direto para o segundo ano primário.
Na semana seguinte fui para a ala direita da sala e, apesar de já saber escrever até com “letra pegada”, começaram as minhas dificuldades.
Tive que copiar e aprender em um fim-de-semana, e até a metade da semana seguinte, a matéria que tinha sido dada nas duas semanas em que permaneci na ala correspondente ao 1o ano, além de acompanhar as aulas do 2o ano que se desenvolviam normalmente.
Essa nova situação se refletiu durante a década inteira da minha vida estudantil.
Eu era o mais novo em todas as minhas turmas, e a própria diferença de idade – entre um ano ou mais – em relação à maioria dos meus colegas, constituía-se num retardamento natural relativo do meu desenvolvimento físico e psicológico. Pode-se explicar desta forma por que eu era o menor indivíduo, mas além de tudo isto, tinha a influência genética.
Ao chegar ao Auxiliadora, em 1968, eu já conhecia alguns daqueles que seriam meus companheiros de turma por muitos anos: o Eduard Balzer, do Mélanie Granier, e também de lá talvez algum outro, que eu não lembro; o Rudy Brendler, o José Pedro Fuchs, o Dionei Silveira e, se não me engano, o Arlindo Almeida, esses do 3º ano, no Colégio Espírito Santo. E foi daí para frente, antes mesmo de eu poder exibir o meu corpo nas partidas de futebol, que um dos meus novos colegas precisou me chamar numa das brincadeiras de recreio, não lembrou, de imediato, o meu nome e gritou de longe:
- Tu aí, ô, mosquito elétrico!
Quem estava por perto começou a rir e as repetições “pipocavam” de todos os lados:
- Mosquito Elétrico! Mosquito Elétrico!
No começo - seguindo uma antiga orientação da minha mãe - eu nem atendia aos chamados e nem ficava brabo também, imaginando que dessa forma o apelido não pegaria. Só que não ajudava em nada essa atitude corajosa porque o meu tipo físico em muito contribuía para que o meu nome verdadeiro fosse, aos poucos sendo substituído pelo “Mosquito Elétrico”, e depois, em função da lei do menor esforço, pelo famoso “Mosquito”.

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