domingo, 24 de fevereiro de 2008

CORINTHIANS, MINHA PAIXÃO


Por Paccelli José Maracci Zahler

No decorrer desses anos, tenho visto, lido e ouvido muita pilhéria a respeito do Corinthians, quando o time foi para a segunda divisão, nem se fala.
Alguns até perguntam: “Como alguém pode ser corinthiano?”, como se isso fosse um sacrilégio, bem que poderiam estender essa pergunta para outros times, não é mesmo?
A minha paixão pelo Corinthians nasceu espontaneamente ou, eu diria que o meu primeiro contato deu-se por acaso.
Confesso que eu nunca entendi de futebol. Até hoje, pouco entendo, mas gosto de ver o Corinthians jogar, seja na primeira divisão, na segunda, na terceira, até na várzea.
Tudo começou lá pelos meus 8 anos de idade. Eu morava em Bagé, RS, e a moda da gurizada era o jogo de botão.
Havia, na Avenida Sete de Setembro, a principal da cidade, uma loja de artigos esportivos, de propriedade do Sr. Hermes Lamotte. Acredito que o próprio nome da loja era Lamotte.
Eu passava pela vitrina , quando voltava da matinê do Cine Avenida nas tardes de domingo e ficava horas a fio vendo artigos para a luta de boxe, chuteiras, meias, joguinhos, e fantasiando sobre atividades esportivas, participações em competições, como todo guri na puberdade.
Um dia, chamou-me a atenção um jogo de botão do time do Fluminense. A combinação das cores verde, vermelho e branco me deixou alucinado.
Naquela época, estou falando dos anos 1960, as coisas eram muito difíceis. Apesar de eficiente, o correio funcionava com lentidão, os telefones não eram comuns, o tempo corria mais devagar.
Eu enfiei na minha cabeça que queria aquele time de botão, mas tinha que correr contra o tempo, se alguém o comprasse, ia demorar muito até que a loja encomendasse outro igual.
Conversei com meus pais e, na segunda-feira seguinte, após a aula, corri até a loja do Lamotte para comprar o jogo de botão. Ele ainda estava na vitrina e precisava de um time adversário. Vi algumas caixinhas e simpatizei pelo time do Botafogo.
Voltei para casa feliz da vida.
O campo de futebol de botão foi improvisado em um quadro-negro que tinha lá em casa.
Convidei um vizinho para jogar comigo. Ele jogaria com o Botafogo e eu com o Fluminense. Na hora de desencaixotar o time, percebi que o goleiro do Fluminense estava danificado. Explico: na caixinha, vinham dez jogadores, a trave e o goleiro que era posicionado por meio de um arame. A conexão do arame com a figura do goleiro estava quebrada . Fiquei arrasado porque sabia que não havia outro joguinho do time do Fluminense para substituição.
Suspendi a partida e, no dia seguinte, voltei à loja para negociar uma troca. O vendedor, salvo engano, o Sr. Lamotte, me ouviu, convenceu-se da argumentação e me disse para escolher outro time, pois não tinha outro do Fluminense para me dar.
Dentre os disponíveis, o que mais me chamou a atenção foi o do Corinthians e acabei optando por ele.
Com os dois times completos, chamei o vizinho e jogamos nossa primeira partida de futebol de botão. Eu com o Corinthians, ele com o Botafogo.
Em nosso campeonato particular, o Corinthians sagrou-se campeão. A partir daí, passou a ser a minha equipe favorita.
O tempo passou, os joguinhos se perderam em meio às diversas mudanças de residência, meus hábitos mudaram, eu passei a me concentrar nos estudos, e fiquei avesso aos esportes, pela falta de habilidade com bolas, raquetes, saltos, piruetas, o que também me afastou dos campeonatos regionais e nacionais de futebol.
Quando vim para Brasília, DF, em uma tarde de domingo fui surpreendido por um foguetório e uma gritaria na quadra onde eu morava. Eram vizinhos comemorando a vitória do Flamengo no campeonato carioca.
No trabalho, os colegas comentavam a respeito do desempenho do Vasco, do Palmeiras, do Botafogo.
No começo, eu não dava bola. Depois, passei a me envolver na conversa e meu pensamento se voltou para o meu joguinho de futebol de botão. Lembrei-me do time que tinha me dado tantas alegrias e tantas vitórias no campo de futebol improvisado. Lembrei-me do emblema, que , na minha opinião , é uma mandala, um ícone, que acaba envolvendo o aficionado de uma maneira mágica. Nesse dia, passei a acompanhar e a torcer pelo Corinthians.
É um pouco difícil explicar o que significa a paixão pelo Corinthians. No meu caso, como descrevi acima, ela foi espontânea, porém, uma vez iniciada, ela vai tomando conta do nosso coração e da nossa mente.
É bom torcer pelo Corinthians, seja na vitória, seja na derrota, seja na primeira divisão, seja na segunda ou, como falei anteriormente, no futebol de várzea.
O emblema, as cores, a torcida do Corinthians acabam envolvendo a gente. Quando percebemos, temos camisetas, agendas, figurinhas, faixas, pôsteres, canetas, com os símbolos do time e sabemos de cor os cantos da torcida.
Almoçamos, jantamos, dormimos com o Corinthians na cabeça, não perdemos um jogo, não nos damos conta dos adversários.
Ser corinthiano é inexplicável. Só torcendo pelo Corinthians para entender.

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