quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
O PIQUENIQUE
Por Sergio Fontana
A Maria Enora, há pouco, referiu-se a dois episódios. Um deles eu nem me lembrava porque seria inacreditável que a comportadíssima Maria Enaura e a nem tão comportada Maria Enora fizessem qualquer coisa que as desabonasse diante dos padres.
O ato de arquitetar e executar um plano para fugir do colégio, pulando o muro, ou algo semelhante, deve ter confundido a cabeça do Padre Lino, o diretor na época, que também acreditava na boa conduta das meninas.
Eu me lembro, isto sim, do tal piquenique e de como começou a encrenca.
Em “Um Tiro No Pé”, de setembro de 2007, está registrada ânsia da direção do Colégio Auxiliadora no sentido de desfazer os pequenos grupos de alunos de uma mesma turma que, por forças naturais, se formavam em função da convivência ininterrupta ao longo dos anos.
As turmas mescladas, ao invés de afastarem antigos companheiros, serviram para ampliar o grupo, solidarizando as duas turmas, A e B, do Científico. Assim, não foi tão difícil para o Humberto Carreta, nosso colega, propor e divulgar no recreio a realização de um piquenique reunindo as duas turmas do 2º ano. O ano era 1975,primavera, final do mês de outubro.
O combinado era faltar à aula na sexta-feira, rezando para que não chovesse. O encontro seria às 07h30min, nas proximidades do colégio ou direto na chácara do Glênio, local do piquenique. O tempo ajudou, o sol brilhou. E assim aconteceu uma grande festa que reuniu a maioria da turma B e uma boa parte da turma A, do 2º Científico.
O churrasco, o violão do Marco Antônio Gobbo, as vozes afinadas, ou não, e a cerveja e os refrigerantes, deram o tempero necessário ao evento que se estendeu até o final da tarde, mas bem antes de escurecer.
Na segunda-feira, vieram os indispensáveis comentários de quem foi e também de quem não foi ao encontro.
Soubemos então que teve aula normal e que, na turma B, havia um único aluno, o Sílvio Fistarol, sobrinho do Padre Lino. Ainda nesse dia fomos convocados, um a um, a comparecer na sala do Coordenador, o Maurício “Moscão” Proença, para responder à pergunta: “Você foi ao piquenique na sexta-feira?”. A minha resposta: “Ninguém é obrigado a vir à aula se não quiser”.
Em seguida, cada um de nós recebeu um envelope contendo uma carta dirigida aos pais ou responsáveis, convocando-os para uma reunião com a direção do Colégjio N. S. Auxiliadora, onde se lia:
“Senhores Pais ou Responsáveis,
Solicitamos o seu comparecimento a este estabelecimento de ensino para tratar da permanência ou não do seu filho no Colégio N. S. Auxiliadora.
A Direção”
Quando chegou em casa, o meu pai se transformou no “Incrível Hulk” e me advertiu com veemência. Ele acreditava que o piquenique tinha sido autorizado pelos padres e se sentiu envergonhado pela minha contravenção.
O castigo imposto, no final das contas, foi bem mais brando do que se poderia esperar. Os padres resolveram aplicar uma suspensão à turma inteira, menos ao Sílvio, o único aluno da sexta-feira. Um ou outro colega que não estava na aula, mas não fez parte do complô naquele dia, também não foi punido.
A turma B, que era a minha, com aproximadamente trinta alunos, foi dividida em três grupos de dez e, esses grupos, em datas diferentes, foram suspensos por dez dias.
Os alunos do primeiro grupo a ser suspenso receberam correspondências em suas casas, comunicando o período correspondente ao afastamento forçado. Decorridos os dez dias a primeira turma retornou e coube à segunda turma, dessa vez, ficar de castigo. O terceiro grupo de alunos teve que esperar até o fim do mês de novembro para sofrer a punição. Quando a última turma voltou e, conseqüentemente, tudo ficou normal, restava recuperar os conteúdos perdidos através de cadernos emprestados com o objetivo de estudar para as provas finais, tentando não ficar em recuperação.
Nenhuma comunicação de afastamento chegou à minha casa. Portanto, eu não fui oficialmente suspenso. Então, nesses períodos difíceis, compareci a todas as aulas, sem restrições por parte dos padres.
Ficou uma pergunta no ar: “O correio extraviou a minha correspondência ou a resposta que eu dei para o Maurício Proença, na sala de interrogatórios, serviu para não provar nada com relação à minha ida ao piqueniqie organizado por um bando de alunos ‘subversivos’?”
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