Por Sérgio Fontana
No início do ano letivo de 1975, na disciplina de Biologia, o professor era o Rubens Lunelli.
No primeiro dia, ele chegou, cumprimentou timidamente os alunos com um "Bom Dia", que soou como um grunhido primitivo e quase inaudível.
A seguir, quebrou umas barras de giz, adequando-as ao tamanho que queria e começou a escrever no quadro.
Sem falar mais nenhuma palavra, foi escrevendo até encher a metade do espaço disponível - o lado esquerdo do quadro.
Traçou uma linha vertical para servir de divisória e continuou a escrever na metade direita.
Completou o espaço e, em seguida, iniciou uma rápida explanação daquele conteúdo. Só que, enquanto ele falava, a gente copiava. Não dava tempo de atender as duas coisas: prestar a devida atenção à explicação do professor e copiar a matéria antes que ele terminasse de apagar o quadro.
Uma ou outra coisa, dentre palavras escritas e faladas por ele, ficou ali, perdida para sempre.
No segundo dia, repetiu-se, em parte, a cena do dia anterior: matéria no quadro; alunos copiando; quadro dividido ao meio; mais matéria no quadro; quadro cheio; alunos copiando; professor explicando; alunos copiando; professor tentando achar o apagador para apagar o quadro; alunos ainda copiando; alunos terminam de copiar; o professor ainda não achou o apagador e se prepara para buscar outro em outra sala;todos vendo o apagador em cima do quadro, calados.
Na seqüência, um esbarrão do professor no quadro e o apagador cai em cima da cabeça dele.
Risos e, por fim, gargalhadas gerais de grande impacto pré-conduzidas pelo Carlos Sá Costa (ele as soltava em volume muito acima do normal, eram verdadeiras gaitadas).
O professor ficou muito vermelho, deu uma boa risada para acompanhar a turma e exclamou:
- Vocês são uns monstrinhos!
No terceiro dia, o Rubens vinha pelo corredor, quase chegando à sala de aula, e o Luzardo, autor da façanha de esconder o apagador na parte de cima do quadro no dia anterior, comentou com o Touro (o nome verdadeiro desse nosso colega eu não lembro mais, provavelmente, Helton):
- Aí vem o Monstrinho!
Outros murmúrios se ouviram:
- O Monstrinho vem vindo!
- Olha o Monstrinho!
A partir daí, em coro ritmado, a turma gritava, batendo nas carteiras:
- Mons-tri-nho! Mons-tri-nho!
Quando ele apareceu na porta, silêncio geral. Ele tinha ganhado um apelido e talvez, ainda hoje, nem saiba disso.
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