quarta-feira, 18 de julho de 2007
O PROBLEMA DE FÍSICA
Por Paccelli José Maracci Zahler
Estávamos no 3º ano do Curso Científico, estudando Eletricidade.
As turmas eram duas: a turma A e a turma B, com aulas às terças-feiras e quintas-feiras, separadas pelo intervalo de recreio.
Dessa maneira, um tema que era dado em uma turma, era comentado com a outra no recreio.
O Professor Gesner, nosso professor de Física, gostava de desafiar os alunos. Com freqüência, chamava-os ao quadro negro para resolver um problema ou explicar algum ponto específico. Se o aluno se saísse bem, elogiava-o; do contrário, nem é conveniente comentar.
Aconteceu em determinada aula, que ele propôs o seguinte problema: “Duas cargas positivas de 1,5 μC e 0,3 μC, estão separadas de 20 cm. Em que ponto será nulo o campo elétrico criado por essas cargas?” e me chamou ao quadro para resolvê-lo.
Eu dividi o quadro em duas partes com um risco de giz, anotei os dados, as fórmulas e comecei a resolver o problema.
Em determinado momento, entre deduções e combinações de fórmulas, a solução foi se tornando e eu tive que utilizar a fórmula de Bhaskara.
Não consegui chegar ao final, naquele dia, porque a campainha do recreio tocara e a aula chegara ao fim.
No outro dia, me comentaram que o Professor Gesner havia dito para a turma B que tinha me dado um problema para resolver, que eu enveredara por um caminho errado porque a solução era simples, bastava utilizar frações, e que ele estava só esperando o momento para pilheriar comigo.
Eu fiquei muito chateado com o comentário e cheguei até a ficar em dúvida se estava no caminho certo.
Ao chegar em casa, comentei o fato com o meu pai e ele me deu o seguinte conselho:
- Procura resolver o problema em casa. Se der certo, pede para terminá-lo na próxima aula, no quadro, na frente de todos; se der errado, fala para o professor que não conseguiu solucionar o problema e que gostaria de aprender a solucioná-lo.
Assim eu fiz. Calculei, recalculei, chequei e o resultado estava correto, meu caminho estava certo.
Na aula seguinte, pedi para o professor para terminar o problema no quadro. Ele deu um sorrisinho e me disse para ir.
Eu comecei falando que, na aula seguinte, eu havia parado no passo tal e que o problema continuaria da seguinte forma. E fui escrevendo.
De vez em quando, eu olhava para o Professor Gesner, que caminhava impaciente pela sala, entre as fileiras, segurando uma tremenda gargalhada.
Passei então a valorizar a solução, explicando passo a passo, bem devagarzinho, pois eu sabia das suas intenções.
Tomei quase todo o tempo da aula até anunciar convicto:
- A carga será nula a 8 cm da carga negativa!
Olhei para o professor, ele estava branco, roxo, vermelho, lágrimas corriam dos seus olhos.
Senti que ele estava surpreso, decepcionado por não ter conseguido fazer a pilhéria, ao mesmo tempo feliz.
Passou a fazer um tremendo de um discurso, elogiando o meu jeito de ser, o meu esforço nos estudos, que eu teria um futuro brilhante, e por aí vai.
Disse-me, no entanto, que a solução era mais simples. Bastava um exercício de raciocínio e o uso de algumas frações para chegar à mesma conclusão e que eu havia descoberto um outro caminho.
Guardo o caderno com o problema e sua solução até hoje.
Às vezes, o folheio e aquela cena volta como se tivesse acontecido ontem.
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