domingo, 30 de setembro de 2007
CALÇA BOCA-DE-SINO (DÉCADA DE 1970)
terça-feira, 25 de setembro de 2007
JORGE
Por Paccelli José Maracci Zahler
Eu cursava o ginásio e, quando havia aula de Educação Física, tínhamos que esperar o portão de trás do colégio abrir porque os padres não nos permitiam aguardar no portão da frente do colégio.
Não sei se por economia, juntavam duas a três turmas para fazer a aula. Dá para imaginar duas a três turmas de meninos esperando no portão de trás do colégio.
Todo mundo que passava não escapava de piadinhas e assobios, a ponto das meninas desviarem o caminho para não passar no meio da meninada, que chegava a tomar conta do canteiro central da rua.
Era justamente em um ambiente assim que ele costumava passar com sua carroça enfeitada.
Seu nome era Jorge, pederasta assumidíssimo.
Quando dobrava a esquina, alguém já gritava, lá vem o Jorge. Não faltavam assobios, gracinhas, aplausos, como em um filme do Felini. E o Jorge passava sorrindo, como que desfilando em uma passarela.
Certamente, em algumas de suas passadas arrebanhava um ou outro amante fugaz, do contrário, não faria sempre o mesmo trajeto nos horários das aulas de Educação Física.
UM RECORTE DE JORNAL (1972/1973)
Por Paccelli José Maracci Zahler
Eu estava revirando a minha caixa de recordações quando me deparei com um recorte do Jornal ZERO HORA, de Porto Alegre,RS. Nele, uma entrevista com Fernandinho, um cabeleireiro daquela capital, que, freqüentemente, aparecia nos canais de televisão, particularmente, no programa da Tânia Carvalho e que chocava a sociedade gaúcha com as suas tiradas.
Corria o ano 1972/1973, quando Fernandinho deu a seguinte entrevista, com um título bastante sugestivo, que reproduzo abaixo.
“FERNANDINHO, MUITO MARAVILHOSO, DIZ QUE PERSONALIDADE É ELE MESMO
Nome: - Fernando Mendes.
Signo: Sagitário
Instrução: - A vida.
Profissão: - Cabeleireiro. Até que a morte nos separe.
Onde trabalha: - Em seu salão de beleza, na Quintino Bocaiúva, 1023.
Estado civil: - Comprometido.
Bairro em que mora: - Petrópolis.
Hora de acordar: - Às 9 horas.
Hora de dormir: - Às 23 horas.
Café da manhã: - Completamente enlouquecido. Tem tudo o que se pode imaginar: laranjada, café, chá, torrada, manteiga, margarina,...
Hora do almoço: - Não tem.
Hora do jantar: - Também não.
Prato preferido: - Qualquer prato, desde que seja à base de massa. Principalmente os feitos por sua “mamã”.
Bebida: - Vinho alemão.
Cigarros: - Marlboro.
Sobremesa: - Adora qualquer coisa que tenha açúcar.
Sabonete: - Somente os à base de mel.
Pasta de dente: - Não tem preferência.
Desodorante: - Bond Street.
Perfume: - Não usa. Usa somente água de colônia “Eau Folle Fuy Larouche.”
Maquilagem: - Só quando é da Biba, de Londres.
Água de barba e creme: - Deus me livre. Não uso essas coisas...
Peso: - Pesa 50 kg, para 1,67 m de altura. Fernandinho acrescenta: “Isto sem plataforma”.
Alfaiate: - Não faço roupas em alfaiates. Meu costureiro é o Reinaldo Momo.
Camiseiro: - Idem.
Cores prediletas: - Preto e branco.
Relógio de pulso: - Baume e Mercier.
Restaurante: - Acha mais simpático o “Chez Dudu”.
Boate: - Não freqüenta.
Time: - Internacional. Diz Fernandinho : ‘sou colorado só por causa do Figueroa’.
Cartão de crédito: - Não tenho equilíbrio emocional suficiente para tê-lo.
Divertimentos prediletos: - Conversar com amigos.
Som: - Rádio Gaúcha.
Televisão: - As cores vivas do 12.
Livro que está lendo: - “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo.
Carro: - Tem um Volks. Mas prefere uma Limousine preta com um chofer mais preto ainda.
Atriz que prefere: - Lisa Minelli.
Ator: - Preferência absoluta pelo Alain Delon.
Cantora: - Elizete Cardoso e Elis Regina.
Cantor: - Charles Aznavour e Lucho Gatica.
Humorista: - Não gosta de humoristas. Acha todos uns chatos.
Personalidade: - Fernandinho.
Coisas da vida: - Dar e receber...”
Assim terminou a entrevista do Fernandinho.
Do outro lado do recorte, uma relação de cinemas e de filmes que estavam em cartaz.
Os cinemas: Cacique, Carlos Gomes, Guarani, Imperial, Lido, Rex, São João, Astor, Baltimore, Cine Center, Coral, Marrocos, Mini Baltimore, Premier, Ritz, Eldorado, Estrela, Marabá, Miramar, Park Auto Cine, Presidente, Real e Rey.
Os filmes: ‘Assassino a preço fixo’, ‘O filho da águia negra’, ‘O último sangue’, ‘Marta, a amante insaciável’, ‘O vingador de Xangai’, ‘A estranha vingança de Rosalie’, ‘O destino do Poseidon’, ‘Sabata, vivo ou morto’, ‘O farol do fim do mundo’, ‘E Deus disse a Caim’, ‘Fórmula Um, no inferno do Grand Prix’, ‘O poderoso chefão’, “A grande escapada”, ‘Em ritmo jovem’, ‘O último Don Juan’, ‘Os dez mandamentos’, ‘Horizonte Perdido’, ‘Mercenários num reino em chamas’, ‘Amargo pesadelo’, ‘Os chacais do oeste’, ‘Salve-se quem puder’, ‘Os mansos’, ‘Adeus, amigo’, “Nossas férias adoráveis’, “Uma casa sob as árvores’, ‘O calhambeque mágico’, ‘Os destemidos não caem’, ‘Barquero’, ‘Inferno no deserto’, ‘Ringo, reze para morrer’, ‘Lampião, o rei do cangaço’, ‘Tristezas do Jeca’, ‘Mais forte que a vingança’, ‘Drácula’, ‘Perfil do diabo’, ‘Essa pequena é uma parada’, ‘A corrida do século’, ‘Aliados contra o crime’, ‘Rezo a Deus e mando bala’, ‘A vingança dos gladiadores’, ‘Encontro com a desonra’, ‘Quando as lendas morrem’, ‘O circo do vampiro’, ‘Inimigos à força’, ‘O terror das mulheres’, ‘Os violentos vão para o inferno’, ‘Fabricantes de ilusões’, ‘O xerife da cidade explosiva’, ‘Os que chegam com a noite’, ‘Tati, a garota’, ‘Os desaparecidos de Singapura’, ‘Os profissionais’, ‘A guerra dos dálmatas’, ‘Os homens do planeta Atia’.
Em Bagé, tínhamos o Cine Avenida, o Cine Capitólio, o Cine Glória, o Minicine Difusora, o Cine Sete.
É difícil não sentir saudades daquela época.
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
UM TIRO NO PÉ
Por Sergio Fontana
Dar um tiro no pé. Esta era uma prática não pouco comum no exército americano espalhado pela Europa Ocidental entre o verão de 1944 e a primavera de 1945. O objetivo imediato era livrar-se da frente de batalha e voltar direto para casa, o que inicialmente chegou a acontecer. Depois, com o aumento desproporcional dos “acidentes”, as causas dos ferimentos desse tipo passaram a ser investigadas de verdade, e se fosse comprovada a intenção do combatente em se ferir de propósito, esse depois de receber o tratamento médico adequado, voltava para o front, sujeito a enfrentar mais tarde uma Corte Marcial e suas conseqüências. Com o tempo a expressão passou a caracterizar uma intenção de enganar ou atingir alguém, que no final acaba prejudicando o próprio autor.
No Auxiliadora dos anos 70, segundo a minha própria avaliação, aconteceu o tal “tiro no pé”. A direção do colégio resolveu ignorar o fato de que turmas de uma mesma série, divididas em A e B, como era o nosso caso, eram como plantas iguais, cultivadas no mesmo local, mas com raízes independentes, e que cada uma tinha a sua própria identidade em função do longo período de convivência entre os colegas, onde as afinidades transformavam alguns em inseparáveis companheiros de jornada.
Fiquei surpreso ao descobrir, no início do ano letivo de 1975, que as turmas A e B do 2º Científico tinham sido mescladas. Uns iriam para lá e outros viriam para cá, o que significava - voltando ao caso das plantas – cortar um pedaço de uma e enxertar na outra, e vice-versa. Imaginei, no princípio, que a intenção dos padres era integrar as turmas, fazendo com que todos passassem a se conhecer melhor. Depois fui perdendo a inocência e concluí que o objetivo era bem menos nobre, e não se resumia apenas a reduzir as conversas em aula como resultado de um tímido relacionamento entre novos colegas. O propósito da coisa era dissolver as “panelinhas”, impedindo que o grande entrosamento entre parceiros de longa data, desse vazão a esquemas de cola, bagunça generalizada e atos de natureza subversiva, ou “vermelhicida” – como diria o Coronel Sinhozinho Malta (Lima Duarte, em Roque Santeiro, 1985).
Pois o tiro saiu pela culatra – uma variação mais popular do tiro no pé – e os padres, apesar de procurarem aprimorar o processo das trocas de turma, fazendo com que nós, os alunos, ocupássemos as filas de assentos em ordem alfabética, o que reduzia a probabilidade de vizinhanças entre alunos afins a simples ocorrências aleatórias, perderam a luta para o imponderável.
Poucas semanas foram necessárias para que o entrosamento entre os novos companheiros de classe e os remanescentes da antiga turma se impusesse ao natural. Do lado de lá da parede, os alunos do 2º A também se harmonizaram rapidamente. As duas turmas logo passaram a formar, por causa dessa integração forçada e dos antigos laços de camaradagem, uma única célula, aumentando ainda mais as preocupações da direção do colégio relacionadas a possíveis “insurreições”, incitadas pelos alunos do 2º Científico, que pudessem atentar contra as rígidas normas de disciplina da Instituição.
O apogeu dessa guerra velada foi a organização e efetiva realização, por parte dessas turmas, de um piquenique numa sexta-feira letiva, no final do mês de Outubro de 1975. Mas esse acontecimento inusitado cabe narrar em uma outra história.
terça-feira, 18 de setembro de 2007
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
CARLOS SÁ COSTA E AMIGOS (2006/2007)
Da esquerda para a direita: Werner (segurando a árvore), Beto (segurando a máquina fotográfica), Cláudio (sem segurar nada), Carlos Sá Costa (segurando uma bolsinha branca e um copo de cerveja) e Mauro Sá Costa (filho do Carlos Sá)(segurando as cadeiras).
Colaboração: Werner Ximendes Beck.
domingo, 16 de setembro de 2007
CARAMURU
Por Paccelli José Maracci Zahler
O apelido não podia ser mais sugestivo: Caramuru!
Caramuru era um cara misterioso. Oficial das forças armadas,tinha se destacado em cursos especiais e isso lhe conferia bastante respeito na cidade.
Naquela época, a lambreta estava sendo substituída pelas motocicletas potentes e Caramuru chamava a atenção por passear pela cidade em uma motocicleta preta, vestido com roupa de couro e capacete pretos, e óculos escuros.Como usava bigode e era corpulento, tinha aquele ar misterioso. Logo, logo, tornou-se um personagem folclórico e alvo de piadinhas. Por onde andava, todo mundo sabia que era o Caramuru, embora poucos o conhecessem de verdade.
Aos meus olhos adolescentes, ele fazia questão do mistério.
Um dia, enquanto aguardávamos para as aulas de educação física no portão de trás do Colégio N.S. Auxiliadora, vimos a motocicleta roncando dobrar a esquina e o motorista todo vestido de preto. Sabíamos que era o Caramuru.
Quando ele estava passando exatamente no meio da meninada, um colega nosso gritou:
- Caramuru, tira o dedo do teu c...!
Todo mundo caiu na gargalhada.
Até hoje não entendo como, com o barulho da motocicleta, o capacete e a zoeira da meninada, Caramuru ouviu o grito, desacelerou a motocicleta, deu meia volta, parou e foi tirar satisfações.
Silêncio total. O cara era um armário de cinco portas.
- Quem disse aquilo? – perguntou.
- Não sabemos!
- Como vocês não sabem?
- Moço, quem disse, correu pra dentro do colégio!
Ele olhou, viu o pátio enorme e deserto, e desistiu.
- Pois digam pra ele, que ele não é homem. Se fosse homem, repetiria o que disse na minha frente.
- Sim, senhor! – respondemos em uníssono.
Ele subiu na motocicleta e foi embora para felicidade de todos.
Encontramos o nosso colega e dissemos:
- Antônio,escapaste por pouco!
sábado, 15 de setembro de 2007
PAPO CABEÇA
Da esquerda para a direita: Joãozinho (esposo da Maria Cristina) e Werner.
Colaboração:Werner Ximendes Beck.
CONGRAÇAMENTO (2007)
Maria Cristina (Tininha],em pé; Werner, Arlindo Almeida (Xiru) e Cláudio Oliveira, sentados, da esquerda para a direita.
Colaboração: Werner Ximendes Beck.
MUSEU DOM DIOGO DE SOUSA
O prédio foi da Sociedade Portugueza de Beneficiência, depois passou a Hospital Dr. Cândido Gafrée e, atualmente, abriga o Museu Dom Diogo de Sousa.
Colaboração: Cristiane e Werner Ximendes Beck.
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
ASSALTOS À MERENDA NO RECREIO
Paccelli José Maracci Zahler
Na época em que não haviam colocado o portão corrediço no pátio do colégio, nós, com 10, 11 anos de idade, sofríamos muito, pois era freqüente a entrada de estranhos, maiores que nós e que provocavam brigas, nos batiam e iam embora pelo antigo portão empenado. Não raras vezes pulavam o muro de quatro metros de altura e adentravam no colégio.
Várias vezes meus colegas e eu fizemos queixa para o padre conselheiro, mas nenhuma providência era tomada. Não sei se por medo de que a coisa piorasse.
A grande injustiça era que, se houvesse alguma briga, éramos punidos por indisciplina e o invasor do colégio que a provocara saía livre, leve e solto.
Eu costumava levar a minha própria merenda. Coisa simples: um sanduíche caseiro com duas fatias de pão d’água e um bife no meio; uma maçã; ou bolachinhas. Entretanto, alguns colegas, freqüentemente levavam dinheiro para comprar cachorro-quente e refrigerante na lanchonete (ou lancheria, como chamávamos) do Padre Nestor. Aí, começavam os problemas, inclusive, fui testemunha ocular de vários assaltos à merenda no recreio.
Geralmente, os alunos maiores iam para a frente da lanchonete do Padre Nestor. Chegava um menor e pedia um refrigerante. Era pegar na garrafa e ele já ouvia:
-Guri, me dá um gole!
Se ele dissesse ‘sim’ e o outro fosse ‘bonzinho’, este tomava um ou dois goles e devolvia a garrafa.
Só que nem sempre era assim. Alguns tomavam quase todo o refrigerante e deixavam o gole para quem tinha comprado, além de saírem rindo desbragadamente.
Podia acontecer de, na briga pela devolução da garrafa, todo o seu conteúdo era derramado ao chão e nenhum dos dois tomava nada.
Certa feita, um aluno menor comprou um cachorro-quente que parecia delicioso, dava água na boca só de olhar. Ao tomá-lo nas mãos, ouviu:
-Guri, me deixa dar uma mordida!
Assustado, ele aquiesceu.
O outro, não sei como, abocanhou quase todo o cachorro-quente, deu uma mordida bem forte, e deixou o pequerrucho só com um pedacinho nas mãos.
O coitado desandou a chorar e os grandalhões saíram rindo e tirando onda com a cara dele.
Eu tomava o maior cuidado na hora de comprar qualquer coisa na lanchonete do Padre Nestor. Sempre escolhia os horários em que todos estavam já preocupados com o final do recreio.
Tais situações extremamente constrangedoras foram amenizadas com a troca do portão do colégio e somente terminaram quando o Colégio N. S. Auxiliadora passou a ser misto, lá por 1972-1973.
A partir dessa época, os alunos passaram a se comportar melhor e a tomar cuidado com o vocabulário e com as brincadeiras de mau gosto.
SEMPRE FUI PERNA-DE-PAU
Paccelli José Maracci Zahler
Embora eu tenha falado algumas vezes em ter jogado futebol, na verdade, posso afirmar que participei de algumas partidas para completar o time, pois nunca joguei nada que prestasse.
Tudo bem que vivíamos a febre do Brasil ter conquistado o tri-campeonato mundial de futebol e em todas as calçadas, todas as várzeas e, inclusive no pátio do Colégio N.S. Auxiliadora, tudo era motivo para uma partida de futebol, inclusive com bola de meia.
Não escondo, nunca tive habilidade com a bola, seja com os pés ou com as mãos.
A bola, a redondinha, a gorduchinha, sempre fugiu de mim.
Aos sábados, o pátio do colégio era o palco de várias partidas de futebol entre as turmas.
Cada um contribuía com um pouco e alugava as camisetas e a bola com o Padre Nestor.
Eu vivia morrendo de vontade de jogar em um daqueles times, mas haviam dois problemas: 1) eu era perna-de-pau; 2) eu sofria com freqüentes inflamações da garganta e não podia ficar me expondo às intempéries.
Em um desses sábados, eu estava aguardando o início de uma das partidas e faltou um jogador.
O capitão do time, o Tupy Silveira, me procurou e me perguntou se eu queria participar da partida para completar o time.
Falei para ele que não estava preparado porque não havia trazido o calção. Ele me disse que isso não era o problema. Ele tinha trazido dois calções e me emprestou um deles.
Fiquei correndo como um desesperado atrás da bola e ela não queria nada comigo.
Não tenho idéia de como terminou a partida, mas nunca esqueci o gesto do Tupy Silveira.
Já no Científico, as aulas de educação física do Prof. Paulinho foram substituídas por jogos de futebol.
Escalado para um dos times, tentei várias posições no meio do campo, pois nunca gostei de atuar como zagueiro. Resultado: acabaram me pedindo para ser goleiro.
Até que me esforcei bastante e consegui fazer algumas defesas importantes em partidas subseqüentes, porém, um problema de cistos nos punhos que, por muitos anos, tem me incomodado, acabou com a minha carreira futebolística.
Provavelmente por essas situações hilárias de falta de habilidade com a bola, não acompanho, nem converso sobre campeonatos de futebol, além de desconhecer por completo as regras.
PADRE ADOLFO DOS ANJOS (MATEMÁTICA)
Paccelli José Maracci Zahler
Quando ingressamos no Curso Científico e eu soube que o professor seria o Padre Adolfo dos Anjos, que já havia participado do congresso de renovação da Matemática no Brasil e tinha fama de ser durão, eu tremi nas bases.
Eu estava acostumado com o Padre José Balestieri, que tinha me ensinado a resolver problemas de Álgebra, e tinha um estilo completamente diferente.
No primeiro dia de aula, o Padre Adolfo fez uma prova com todo mundo e a nota máxima foi 5,0. Sem falar que a forma de explicar as coisas não eram muito claras. Para entender tinha-se que estar com todas as regras na cabeça.
Todo mundo entrou em pânico.
Eu comecei a pensar em uma forma de vencer essa barreira e descobri que a Matemática só é realmente compreendida através de exercícios.
De nada adiantava ficar resumindo a matéria e decorando fórmulas.
Encontrei um livro com centenas de exercícios de Matemática e todos os dias eu fazia mais de uma dezena.
Coloquei um quadro-negro em meu quarto e fazia exercícios até meia-noite.
Passei a tomar gosto pela coisa.
Os resultados positivos chegaram mais cedo do que eu pensava e, quando a nota chegava aos primeiros lugares, o Padre Adolfo incentivava, não somente a mim como aos demais, colocando a prova em exposição na sua sala.
Alguns colegas descobriram que o Padre Adolfo adorava fazer discursos. Então, quando a aula estava muito chata e ninguém estava compreendendo patavina, os mais habilidosos puxavam um assunto interessante, o Padre Adolfo fazia um comentário, se entusiasmava e tascava um longo discurso, que mexia com a nossa imaginação.
Tive a sorte de ter tido o Padre Adolfo como meu professor de Matemática 1 e 2 na Faculdade de Agronomia e percebi que ele ficou muito feliz em me ver na classe. Porém, meu desempenho deixou a desejar porque eu tinha que estudar outras disciplinas com as quais não estava acostumado como Petrologia, Química Analítica Qualitativa, Desenho Técnico Aplicado, Morfologia Vegetal, Zoologia Agrícola.
Restaram as boas recordações e a saudade.
domingo, 9 de setembro de 2007
O CONSELHO DO PROF. FREDERICO PETRUCCI
Paccelli José Maracci Zahler
Ele chegava na sala de aula, saudava os alunos, que o recebiam em pé e respondiam à saudação em uníssono.
Ele retirava um lenço branco do bolso do paletó, espanava com ele o assento da cadeira para retirar o pó do giz da aula que o antecedia, antes de sentar-se.
Sentado, ele dissertava sobre o tema da aula de Geografia, marcava o trecho que tínhamos que decorar para a próxima aula e ia chamando um por um para tomar a lição do dia.
Às vezes, não dava tempo para decorar em casa,mas, de tanto ouvir as lições dos colegas, era possível gravar o trecho a ser repetido.
Em determinada ocasião, a aula era sobre os países da América do Sul.
O Prof. Petrucci fez uma explanação sobre cada um deles, seus territórios, religiões, usos e costumes, situação política, idioma.
Eu nunca me esqueci de ele ter dito:
- Lembrem-se, estamos rodeados por países que falam o espanhol. Assim que vocês puderem, dominem bem o espanhol.
Isso foi entre 1969 e 1970, quando freqüentei o curso de Admissão ao Ginásio e o 1º Ano Ginasial, quando ele nos deu aulas de Geografia no Colégio N. S. Auxiliadora.
Eu achei muito interessante esse conselho dele, principalmente em uma época em que só se pensava em aprender inglês. Inclusive, creio que eram raras as escolas de espanhol.
Passei a estudar espanhol sozinho, copiando artigos à mão, ouvindo rádios da Argentina, Uruguai, Chile, Espanha.
Em 1983, surgiu a oportunidade de estudar na Venezuela, durante um mês, com uma bolsa de estudos da Organização dos Estados Americanos. Foi um choque. Logo que cheguei, as expressões eram completamente diferentes daquelas que eu havia estudado, mas, depois de duas semanas, já estava me virando sem problemas.
Em 1994, fiz um curso no México e Guatemala com duração de um mês e meio. Apesar de haver se passado um bom tempo sem praticar conversação, somados os regionalismos, consegui me sair razoavelmente bem.
A implementação do MERCOSUL proporcionou várias viagens de trabalho ao Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. Daí, para a obtenção do diploma de proficiência em espanhol foi um pulo.
Nunca me esqueço de uma reunião com uma representação da Argentina, onde um conterrâneo passou a se comunicar em um “portunhol castiço”.
A coisa estava tão confusa, que os interlocutores argentinos pediram encarecidamente a ele que falasse em português porque eles não estavam entendendo nada.
O Prof. Petrucci estava certo. Se eu não tivesse seguido o seu conselho, teria tido uma série de dificuldades, pois uma coisa é falar o espanhol, outra é achar que está falando e passar vexame.
APARELHO DE SOM (DÉCADA DE 1970)
sexta-feira, 7 de setembro de 2007
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