domingo, 9 de setembro de 2007

O CONSELHO DO PROF. FREDERICO PETRUCCI


Paccelli José Maracci Zahler


Ele chegava na sala de aula, saudava os alunos, que o recebiam em pé e respondiam à saudação em uníssono.
Ele retirava um lenço branco do bolso do paletó, espanava com ele o assento da cadeira para retirar o pó do giz da aula que o antecedia, antes de sentar-se.
Sentado, ele dissertava sobre o tema da aula de Geografia, marcava o trecho que tínhamos que decorar para a próxima aula e ia chamando um por um para tomar a lição do dia.
Às vezes, não dava tempo para decorar em casa,mas, de tanto ouvir as lições dos colegas, era possível gravar o trecho a ser repetido.
Em determinada ocasião, a aula era sobre os países da América do Sul.
O Prof. Petrucci fez uma explanação sobre cada um deles, seus territórios, religiões, usos e costumes, situação política, idioma.
Eu nunca me esqueci de ele ter dito:
- Lembrem-se, estamos rodeados por países que falam o espanhol. Assim que vocês puderem, dominem bem o espanhol.
Isso foi entre 1969 e 1970, quando freqüentei o curso de Admissão ao Ginásio e o 1º Ano Ginasial, quando ele nos deu aulas de Geografia no Colégio N. S. Auxiliadora.
Eu achei muito interessante esse conselho dele, principalmente em uma época em que só se pensava em aprender inglês. Inclusive, creio que eram raras as escolas de espanhol.
Passei a estudar espanhol sozinho, copiando artigos à mão, ouvindo rádios da Argentina, Uruguai, Chile, Espanha.
Em 1983, surgiu a oportunidade de estudar na Venezuela, durante um mês, com uma bolsa de estudos da Organização dos Estados Americanos. Foi um choque. Logo que cheguei, as expressões eram completamente diferentes daquelas que eu havia estudado, mas, depois de duas semanas, já estava me virando sem problemas.
Em 1994, fiz um curso no México e Guatemala com duração de um mês e meio. Apesar de haver se passado um bom tempo sem praticar conversação, somados os regionalismos, consegui me sair razoavelmente bem.
A implementação do MERCOSUL proporcionou várias viagens de trabalho ao Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile. Daí, para a obtenção do diploma de proficiência em espanhol foi um pulo.
Nunca me esqueço de uma reunião com uma representação da Argentina, onde um conterrâneo passou a se comunicar em um “portunhol castiço”.
A coisa estava tão confusa, que os interlocutores argentinos pediram encarecidamente a ele que falasse em português porque eles não estavam entendendo nada.
O Prof. Petrucci estava certo. Se eu não tivesse seguido o seu conselho, teria tido uma série de dificuldades, pois uma coisa é falar o espanhol, outra é achar que está falando e passar vexame.

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