quinta-feira, 13 de setembro de 2007
ASSALTOS À MERENDA NO RECREIO
Paccelli José Maracci Zahler
Na época em que não haviam colocado o portão corrediço no pátio do colégio, nós, com 10, 11 anos de idade, sofríamos muito, pois era freqüente a entrada de estranhos, maiores que nós e que provocavam brigas, nos batiam e iam embora pelo antigo portão empenado. Não raras vezes pulavam o muro de quatro metros de altura e adentravam no colégio.
Várias vezes meus colegas e eu fizemos queixa para o padre conselheiro, mas nenhuma providência era tomada. Não sei se por medo de que a coisa piorasse.
A grande injustiça era que, se houvesse alguma briga, éramos punidos por indisciplina e o invasor do colégio que a provocara saía livre, leve e solto.
Eu costumava levar a minha própria merenda. Coisa simples: um sanduíche caseiro com duas fatias de pão d’água e um bife no meio; uma maçã; ou bolachinhas. Entretanto, alguns colegas, freqüentemente levavam dinheiro para comprar cachorro-quente e refrigerante na lanchonete (ou lancheria, como chamávamos) do Padre Nestor. Aí, começavam os problemas, inclusive, fui testemunha ocular de vários assaltos à merenda no recreio.
Geralmente, os alunos maiores iam para a frente da lanchonete do Padre Nestor. Chegava um menor e pedia um refrigerante. Era pegar na garrafa e ele já ouvia:
-Guri, me dá um gole!
Se ele dissesse ‘sim’ e o outro fosse ‘bonzinho’, este tomava um ou dois goles e devolvia a garrafa.
Só que nem sempre era assim. Alguns tomavam quase todo o refrigerante e deixavam o gole para quem tinha comprado, além de saírem rindo desbragadamente.
Podia acontecer de, na briga pela devolução da garrafa, todo o seu conteúdo era derramado ao chão e nenhum dos dois tomava nada.
Certa feita, um aluno menor comprou um cachorro-quente que parecia delicioso, dava água na boca só de olhar. Ao tomá-lo nas mãos, ouviu:
-Guri, me deixa dar uma mordida!
Assustado, ele aquiesceu.
O outro, não sei como, abocanhou quase todo o cachorro-quente, deu uma mordida bem forte, e deixou o pequerrucho só com um pedacinho nas mãos.
O coitado desandou a chorar e os grandalhões saíram rindo e tirando onda com a cara dele.
Eu tomava o maior cuidado na hora de comprar qualquer coisa na lanchonete do Padre Nestor. Sempre escolhia os horários em que todos estavam já preocupados com o final do recreio.
Tais situações extremamente constrangedoras foram amenizadas com a troca do portão do colégio e somente terminaram quando o Colégio N. S. Auxiliadora passou a ser misto, lá por 1972-1973.
A partir dessa época, os alunos passaram a se comportar melhor e a tomar cuidado com o vocabulário e com as brincadeiras de mau gosto.
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