domingo, 20 de janeiro de 2008

O ESPELHO


Por Paccelli M. Zahler

Era agosto! Estávamos ensaiando para o desfile de 7 de Setembro em frente à Catedral de São Sebastião. Pela primeira vez iríamos participar da Semana da Pátria pois a Escola São Benedito não tinha muita expressão para competir com as outras. Creio que foi em 1968.

A Escola São Benedito pertencia ao Orfanato São Benedito localizado na Rua 7 de Setembro a cerca de 2 ou 3 quadras da Catedral de São Sebastião.

Eu estava no quarto ano primário. Um militar nos dava noções de ordem unida e marcha. Pelo menos uma ou duas manhãs por semana ficávamos ensaiando em frente à Catedral.

O inverno já estava terminando e o ar fresco associado a um sol brilhante dava um colorido todo especial à paisagem. Lembro que nessa época, alguns soldados foram convocados pelo pároco para matarem algumas pombas que viviam nas torres da Catedral e que causavam muitos transtornos porque sujavam a calçada e as paredes. Por alguns momentos lá ficavam eles praticando tiro ao alvo para reduzir a população dos pombos. Nada se falava de Ecologia! Mas a ação era necessária porque os pombos podem ser transmissores de zoonoses.

Quando os soldados estavam atirando nos pombos, tínhamos que parar os nossos ensaios. Nesses pequenos intervalos foi que partiu a idéia, não lembro mais de quem, mas sei que foi dos alunos mais sapecas e avançadinhos da turma, de usar um espelhinho no sapato para ver as calcinhas das meninas.

Como naquela época eu era muito ingênuo, custei um pouco a entender. E me perguntava: "Ver calcinha para quê?" Ninguém soube me responder, mas a brincadeira era ver calcinhas. Foi então que colocaram um espelhinho no meu sapato e me pediram para posicionar embaixo da saia de uma menina. Não consegui ver nada, a não ser o azul do céu. O colega que estava do meu lado falou bem alto: " É verde!" E eu me sentia frustrado, não conseguia ver nada. Mais adiante, outro gritou: "Esta aqui é amarelinha!" E assim passamos boa parte do intervalo.

No outro dia, na hora do ensaio, não nos dirigimos para a frente da Catedral. A madre superiora nos reuniu no pátio da escola na frente das meninas e nos passou o maior sabão.

Que era uma pouca vergonha o que havíamos feito no dia anterior, que ela não admitiria que aquilo se repetisse, que em caso de reincidência ela iria enviar uma carta a todos os pais e nos deixar de castigo.

Tentei me defender dizendo que não havia participado efetivamente da brincadeira mas ela não me acreditou e me deu um sabão à parte.

Acabei pagando pelas calcinhas que não vi!

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