segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A PROVA DE GENÉTICA


Por Paccelli José Maracci Zahler
Não me recordo se foi em 1975 ou 1976 que tivemos uma prova de Genética com o Monstrinho (Rubens Lunelli).
Durante a chamada, o Monstrinho deu pela falta da Heloísa e do Tiaraju. Tudo bem! Se não tinham vindo era porque teriam tido alguns problemas particulares e poderiam solicitar uma prova em segunda chamada.
Se bem me lembro, as aulas de Biologia eram às quartas-feiras. Logo, o resultado da prova seria apresentado na semana seguinte, quando seria aplicada a prova em segunda chamada.
Na quinta-feira, fui procurado pela Heloísa, um pouco constrangida, cheia de rodeios, dizendo que precisava de um favor especial – que eu ajudasse ambos, ela e o Tiaraju, a resolverem a prova em segunda chamada.
Confesso que levei um choque e não sabia o que responder, mas disse que ia ponderar a respeito.
Fiquei com um tremendo drama de consciência e isso me acompanha até hoje, em situações semelhantes, não pela prova em si, mas pela forma como fui educado.
Sempre estudei em escolas religiosas, onde a disciplina é o ponto forte. Colar, dar cola, ajudar outros na hora da prova sempre foram consideradas faltas graves.
Todos se lembram do nosso professor de Desenho que sempre dizia:
- Cada qual com o seu material!
Isto significava que não podíamos emprestar material de Desenho para um colega sob pena de perder pontos nas provas.
Era um dilema: romper ou não romper o paradigma imposto.
No outro dia, dei a resposta: - Sim!
Os olhos da Heloísa brilharam e ela foi logo falar com o Tiaraju e ambos vieram combinar comigo como faríamos.
A aula de Biologia era depois do recreio e o assunto seria o resultado da prova de Genética, onde seriam analisadas e discutidas todas as questões e esclarecidas todas as dúvidas quanto à resposta correta.
O professor iria dar-lhes as questões para serem resolvidas em outra sala, provavelmente a dos professores. Eles pediriam para ir ao banheiro, levariam uma cópia da prova, me chamariam ou mandariam alguém me chamar na sala e eu os encontraria no pátio para analisar e resolver os problemas. Assim foi feito.
Ambos tiraram notas altas.
No dia seguinte, a Heloísa me entregou um bilhetinho que dizia: “Obrigado, Paccelli! Heloísa.”
Eu o guardo até hoje como recordação.
Trinta e dois anos depois, encontrei a Heloísa pela internet. Comentei a respeito dos tempos do Auxiliadora, falei do bilhete, do qual ela não se lembrava. Depois que contei a história da prova de Genética, ela me escreveu dizendo:
- Agora entendo porque penei tanto estudando Genética para o vestibular!
O meu drama de consciência acabou voltando. Será que ao aceitar resolver a prova de Genética para a Heloísa e o Tiaraju não acabei tolhendo o aprendizado deles?

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