sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ROUBARAM MINHA CASA!


Por Paccelli José Maracci Zahler

Foi por volta de 1966.
Nós morávamos na rua Coronel Pedroso, a poucos metros da rua Barão do Amazonas.
A casa tinha sala, quarto, cozinha, banheiro e uma área de serviço, cujo acesso se dava por uma porta com vidros, onde ficava o tanque e o varal. Devia medir 1 m x 2 m e era separada da casa vizinha por um muro de 2,3 m do nosso lado. Do pátio da casa vizinha, o muro media 1,0 m.
A distância para a casa da minha avó era de 110 m.
Como vivíamos o período do Movimento Militar de 1964 e meu pai ficava aquartelado, de prontidão, quase todas as tardes, minha mãe, minha irmã de 2 anos e eu visitávamos a minha avó.
Certo dia, minha irmã e eu estávamos sentados na soleira da porta principal, que dava para a rua e de onde se visualizava a porta da área de serviço.
Em determinado momento, o vizinho da casa cujo pátio era colado na área de serviço, se aproximou, pegou na mão da minha irmã e ficou dizendo gracinhas que adultos dizem para crianças tipo “Ah, que menininha bonitinha! O que ela vai ser quando crescer?” e assim por diante.
Por alguma razão, eu fitei nos olhos dele e percebi que eles estavam estudando a conformação da porta da área de serviço. Achei estranho, mas aquilo me marcou.
Dias depois, quando voltamos da casa da minha avó, lá pelas 19 horas, ao abrirmos a porta principal, verificamos que o vidro da porta da área de serviço estava quebrado no formato de um punho. Tamanho suficiente para abrir o trinco da porta.
Tinham pulado o muro a partir do vizinho, quebrado o vidro e entrado.
A casa estava um caos. Tudo revirado.
No quarto, roupas espalhadas pelo chão, gavetas fora do lugar. Na sala, demos pela falta de uma coleção de discos de vinil de inglês do Linguaphone, de 45 rpm; na cozinha, do copo do liquidificador, um despertador e um rádio portátil Philco com duas faixas de onda, OM e AM, onde costumávamos ouvir a Voz da América e a BBC de Londres.
Não sei de onde, começou a juntar gente na frente da porta. Aqueles olhos arregalados, penetrantes, gente desconhecida.
Alguém chamou a rádio-patrulha. Os guardas da polícia entraram na casa, anotaram alguma coisa e fizeram algumas perguntas.
Não tenho a menor idéia de quem chamou meu pai.
Ele pediu que todos se retirassem e não quis dar queixa, afinal, o que estava feito não podia ser remediado.
Eu comentei com minha mãe sobre a atitude do vizinho. Se não havia sido ele, pelo menos ele havia passado a informação para quem praticou o roubo.
Minha mãe me repreendeu porque não queria que eu julgasse as pessoas.
Tempos depois, meu pai foi chamado à delegacia de polícia. Haviam encontrado o ladrão e ele conseguiu recuperar o rádio portátil.
Quarenta e três anos depois, a imagem continua viva na minha mente.
Embora ainda resista em fazer julgamento para não ser injusto, continuo com a convicção de que o vizinho teve alguma participação no roubo da minha casa.
Minha mãe até hoje me contesta.


(Nota: Morei na Rua Daltro Filho, depois fui para a Rua Cel. Pedroso por alguns meses e voltei a morar na mesma casa da Rua Daltro Filho até ser matriculado no Colégio N. S. Auxiliadora, quando fui morar na Rua Gen. João Telles a duas quadras do colégio).

Nenhum comentário: